Marrocos me decepcionou
De todas as minhas andanças pelo mundo, eu já tive grandes choques culturais, sociais e econômicos. A destruição em Sarajevo pós...

De todas as minhas andanças pelo mundo, eu já tive grandes choques culturais, sociais e econômicos. A destruição em Sarajevo pós guerra, a miséria de Mianmar, o turismo predatório no Camboja são só alguns dos exemplos mais recentes.

A verdade é que quanto maior a expectativa, maior será a sua decepção se algo não for como você idealizou. Eu não esperava muito coisa do país, mas também não achava que o Marrocos fosse me surpreender negativamente, mas aqui eu aprendi a minha primeira grande lição dessa viagem: esteja preparado para tudo. Pode parecer óbvio, eu não sou nenhum inocente e sabia muito bem que na África as coisas seriam diferentes.

Na minha chegada a Marrakech fazia frio e chovia muito, algo que não combina com a imagem que nós temos de um país quente e desértico como o Marrocos.

No aeroporto ninguém falava uma palavra em inglês e o transfer que eu tinha contratado não estava me esperando lá.  Consegui enviar um email para o Riad onde me hospedaria e eles acharam o cara. Já teria sido um presságio? Um sinal de que as coisas não funcionam muito bem naquele canto do mundo?

Mas as surpresas e decepções no Marrocos ainda não tinham começado. No meu primeiro dia eu saí pela Medina, que é a parte antiga da cidade, toda murada e onde funciona o comércio tradicional. Esse tipo de construção é muito comum em cidades árabes, todas elas tem a sua Medina.

Eu andava pelos becos estreitos desviando do esgoto e tentando não ser atropelado pelas motos, bicicletas e carroças que passavam por ali como se fosse uma grande avenida e onde mal cabiam os turistas atônitos com a cena. Achei até divertido e incomum.

Andando pelos becos é natural ficar encantado com as mercadorias que são vendidas nas centenas de lojinhas e tendas e aqui vai a segunda lição: só pare em alguma loja se estiver realmente interessado em comprar alguma coisa. Os vendedores são chatos, insistentes e fazem de tudo pra você comprar.  

A sensação que eu tive é que os caras enxergam a gente como bolsas de dinheiro ambulantes e nada mais.  Andando pela praça em frente a Mesquita da Koutoubia, um grupo vestindo roupas típicas se aproximou e pediu para tirar uma foto, claro, isso tem cheiro de golpe em qualquer lugar do mundo. Tirei uma foto dos caras e depois queriam me cobrar 200 Dirhams, o que seria equivalente a 20 Euros. Claramente não paguei, nem se fosse uma foto com a Rainha Elizabeth.

No mercado local comprei algumas mercadorias depois de muita barganha, o vendedor se recusava a dar o troco. Queria que eu comprasse mais e mais, tentava me intimidar, fazia cara de poucos amigos. Sangue frio, pulso firme e tudo se resolve.

Na praça central homens com macacos acorrentados para tirar fotos com os turistas, os animais desesperados e agonizando. Cobras “hipnotizadas” por flautistas que cobravam para os animais para serem fotografados. Corujas e águias com as asas cortadas. Me senti deprimido.

Já cansado de tantas tentativas de golpe eu decidi voltar para o Riad no meio da tarde e aqui mais uma lição: informação custa caro. Perguntei a um senhor a direção de uma rua, ele quis cobrar por isso. Chega né?

Voltei para o Riad profundamente decepcionado com Marrakech, eu sabia que seria trash, mas nem tanto. Mas eu estava lá, não podia simplesmente deixar de aproveitar o que a cidade tem a oferecer e no dia seguinte saí determinado a fazer diferente e aqui vai a quarta lição: se não quero me aborrecer, não vou deixar que me aborreçam.


Hora de virar o jogo


A melhor atitude que eu tomei, talvez tenha sido uma das mais cruéis e foi ignorar as pessoas. Coloquei meus fones, liguei uma música e fui andar pela Medina, visitar o Palais de La Bahia, parques, passei pelo mais antigo Souk da cidade e outras áreas interessantes.

Quem tentava me abordar eu olhava através, ignorava completamente, fingia que os golpistas não existiam. Fiz fotos no Souk provavelmente sendo xingado em árabe e quer saber? Eu não me importei.

O segundo dia no Marrocos foi legal, conheci lugares lindos e que valem a pena a visita, mas tive que criar essa blindagem, uma bolha e se você pretende visitar o Marrocos, pense em fazer o mesmo.


Mas vale a pena?


Marrakech tem lugares lindos, o Jardim de Majoelle, onde fica a casa que foi do estilista francês Yves Saint Laurent, o Palais de la Bahia, a Mesquita da Koutoubia, Medrassa e até o Souk e a Medina tem a sua beleza. Se você estiver disposto a aguentar todo esse assédio, vai na fé. Vista a sua blindagem favorita e aproveite. Mas para mim, nem em outra encarnação.

***


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29 thoughts on “O Marrocos me decepcionou até onde eu deixei

  1. Fui na década de 90, mas em uma excursão. Detesto excursão, mas em alguns lugares do mundo, creio que só assim para conhecer determinados países. O guia nos blindava, os locais que fomos eram incríveis, mas essa sensação de que você está levando a pior, toda vez que compra uma mercadoria é irritante. Tinha coisa que valia mais comprar na loja do hotel do que no mercado popular… Único lugar que vi isso na minha vida!

    1. Oi Renata, não mudou nada. Continua a mesma coisa e talvez pior. Tem um centro de artesanato criado e mantido pelo governo, lá não tem assédio e o preço é muito justo, talvez tenha sido criado por conta disso mesmo.

  2. Tive uma experiência totalmente diferente! Viajei independente e fiquei cinco dias no centrinho de Marrakesh fazendo tudo a pé e sem ser assediada de forma acintosa. Interessante seu relato, fico pensando o por que de tal diferença. Realmente desviei de todas as pessoas com animais, sequer chegava perto… mas andei pelos souks, pedi informações, comprei e deu tudo certo. Cada viagem uma viagem

  3. Parabéns
    Você foi a única pessoa que até hoje descreveu o show de horrores que é lá.
    Sempre falo a mesma coisa, nem morta volto pra lá.

    1. Oi Sabrina, obrigado! Não entendo como alguns blogueiros insistem em “glamourizar” alguns lugares. Prefiro ser realista para que ninguém passe pelo que eu passei.

      1. Oi, Fabricio
        Estou em Marrocos, Fevereiro de 2023, e sem dúvidas, foi o pior lugar que ja fui. Seu texto reflete exatamente o que vi por aqui.

  4. Meu Deus Fabricio!!! Ainda bem que li o seu post… para mim soou como uma mistura de Istambul e Nápoles rsrs…
    Mas agora me sinto mais preparada para tomar a decisão de ir a algum lugar assim novamente. Obrigada!!

  5. Fabricio vc me assustou!! Irei em março /18 com um grupo. Claro q jamais iria sozinha para Marrocos. Já fui p Turquia e sei como é o assédio com as mulheres. Espero não passar por esses perrengues. Depois volto para contar como foi. 😉

  6. Gostei desse seu artigo, tive uma situação semelhante no Senegal e me senti da mesma maneira que descreve até que um portugues que lá morava me deu a dica que ainda hoje sigo, IGNORE, IGNORE e IGNORE continue a fazer o que esta fazendo fingindo que eles nao estao ali, ao fim de um pouco desistem e os outros acabam por ver que ali com a gente não pega, se insistirem de por coisas em cima de voce ou nas maos olhar bem nos olhos e dizer NAO com ar ameaçador. resulta sempre

  7. Estou no Marrocos e estou achando super tranquilo, muito diferente do seu relato de 2016 e de tantos outros que eu li sobre Marrakesh. Achei Salvador na Bahia bem pior, rss. Mas as outras cidades de Marrocos ñ tem isso de ficar em cima p vender não. Mas tb é Ramadã, pode ser por isso estão mais “tranquilo”. Mas qm n qr passar por isso pode ir nas outras cidades do país, todos se orgulham de n ser como Marrakesh, rss adoram frissar isso.

  8. Oi Fabrício estou indo passar o Réveillon em Sevilha e volto para o Brasil de Porto. Pensei em ir de Sevilha a Marrakesh, tenho só dois dias… ma seu relato me desanimou. Detestamos assédio, gosto de fazer as coisas ao meu tempo. Fiquei pensando se valeria a pena esse corre corre P me aborrecer! Obrigada pelo relato pois a maioria que li só fala coisas boas e acho que temos que ser realistas.

  9. Já estive em várias cidades de Marrocos, e sim, Marrakech eu senti que somos um pouco olhados como sacos de dinheiro, mas em momento nenhum fui obrigado a nada disso! Até porque talvez simpatizem com Portugal ahah. Inclusive cheguei a regatear com um rapaz logista da minha idade na altura, e foi bem divertido. Há pessoas e pessoas, não fiquem a pensar que marrocos/marrakech é tudo assim! Espero voltar a Marrocos, conheci pessoas muito amáveis, e adoro a cultura.

  10. E eu achava que o assédio que sofri em Cartagena, na Colômbia, tinha sido um horror, agora Marrakech me desanimou… Se tem uma coisa que não suporto é vendedores insistentes, que ficam gritando seus produtos e não desgrudam de você! Eu tenho muita vontade de conhecer o Marrocos; há muitas fotos que gostaria de tirar lá e muito souvenir interessante para comprar, mas acho que só irei se eu tiver comigo um “repelente” de vendedores insuportáveis.

  11. Confirmo seu relato!! Fui p Marrocos em 2019 passei por Marrakesh, Casablanca e Tanger…País e cultura bacana, mas é tudo isso que você descreveu dos taxistas, nos restaurantes, dos vendedores, das fotos e dos ditos guias…Muito exaustivo, cheguei a discutir verbalmente no Tanger com dito “guia”… Passei por momentos semelhantes no Egito, Turquia e na Tunísia, mas o Marrocos é exagerado. Contudo, uma mas uma vez na vida vale uma visita, ignorando algumas pessoas como disseram.

  12. Estive em Marrakesh ano passado e fui muito bem recebido. Visitei todos os pontos turísticos à pé.
    Andei pelas ruas estreitas da Medina, competindo com motos, charretes, bicicletas etc. Achei muito interessante. Fui abordado por vendedores, claro, mas nada que me tirasse do sério. Quando eu viajo, tento não levar a minha cultura a tiracolo, mas me incorporar na cultura local. Fiz o passeio de dromedário e pernoitei em barracas no deserto. Experiência maravilhosa!! Conheci divesas cidades, inclusive onde foi gravado o Gladiador. Sensacional! Achei seu blog pois estou pesquisando para retornar a Marrocos. Temos que levar em consideração que se trata da África, país pobre com cultura totalmente diferente da nossa. Sinceramente, quem não quer passar por essas situações, melhor ir para Inglaterra, Suíça, Alemanha. Bom, melhor não sei, porque nesses lugares olham torto para a gente, pois nós é quem somos os “pobres”. Um grande abraço.

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