
Profundamente enraizados na história do Brasil, Lampião e Maria Bonita se tornaram lendas do sertão. Neste artigo eu mostro como fazer a Rota do Cangaço, um roteiro que segue os últimos passos do “Rei do Cangaço” e seu bando através do Rio São Francisco até a Grota do Angico, onde a história de Lampião teve o fim.
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O Cangaço foi um dos movimentos sociais mais marcantes da história do Nordeste brasileiro. Entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX, grupos de cangaceiros percorriam os sertões, desafiando as autoridades e vivendo entre a resistência e a criminalidade. O mais famoso desses grupos foi o bando de Lampião, o “Rei do Cangaço”, e sua companheira Maria Bonita, a primeira mulher a integrar um grupo cangaceiro.
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Símbolos de coragem, violência e resistência contra as injustiças sociais da época. Seus feitos ainda ecoam nas histórias populares e nos roteiros turísticos do Nordeste, atraindo curiosos e apaixonados pela cultura nordestina. A saga de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, povoa o imaginário do brasileiro há quase 100 anos!
Explorar os caminhos do Cangaço é mergulhar na história do Brasil profundo, cheia de contrastes, desafios e personagens inesquecíveis.
Como fazer a Rota do Cangaço de Lampião
O ponto de partida para fazer a Rota do Cangaço é a cidade de Piranhas, no sertão alagoano e às margens do emblemático Rio São Francisco. A cidade fica distante cerca de 285 km de Maceió e faz divisa com Sergipe na outra margem do São Francisco.
Eu fiz o passeio da Rota do Cangaço com a Conheça Piranhas, uma agência local que presta um trabalho excelente na cidade. E vocês podem reservar o passeio através deste link. O passeio custa R$100 por pessoa (adulto) e R$50 (crianças de 5 a 9 anos). Para crianças de até 4 anos o passeio é gratuito.

A Rota do Cangaço
O passeio começa no portinho de Piranhas onde embarcamos em um catamarã para descer o Rio São Francisco. Piranhas foi usada como base pelas Volantes para capturar os cangaceiros. As Volantes eram grupos armados organizados pelos governos estaduais para perseguir e combater os cangaceiros. Compostas por soldados e jagunços experientes na vida no sertão.


O caminho pelo Rio São Francisco é o mesmo que a Volante liderada pelo tenente João Bezerra fez na noite do dia 27 de julho de 1938.

O passeio pelo rio revela paisagens incríveis e só a navegação no Velho Chico já valeria muito a pena fazer esse passeio. O catamarã segue suave rio abaixo por aproximadamente 40 minutos, o nosso destino é o Espaço Angicos, no lado sergipano e onde hoje existe um excelente restaurante, onde almoçamos e tomamos banho de rio depois da trilha.

A trilha pela caatinga
A trilha parte do restaurante e segue pelo meio da caatinga até a Grota do Angico e foi neste exato lugar que as volantes desembarcaram naquela madrugada.
O custo é de R$30 e não está inclusa no valor do passeio e o pagamento pode ser feito com cartão de crédito. O guia nos conta detalhes impressionantes sobre aqueles dias e como aconteceu o cerco ao bando de Lampião.

A trilha possui 680 metros e levamos cerca de 30 minutos para percorrer até a Grota do Angico. O trajeto possui um trecho íngreme que não é recomendado para pessoas com dificuldades de mobilidade ou grávidas.

Aliás, é importante sinalizar que essa é a trilha que as volantes fizeram na madrugada do dia 28 de julho de 1938, por isso ela é chamada de trilha original. Existe um outra trilha, mais longa, e que não foi a trilha usada pelas volantes. Por tanto, escolha essa que eu fiz com a Conheça Piranhas.


A Grota do Angico, onde tudo aconteceu
A grota é uma formação natural cercada por vegetação típica da caatinga, com grandes pedras, arbustos secos e um terreno acidentado no leito de um riacho temporário que quando existe fluxo de água, ele segue para o São Francisco.

No local onde o bando foi surpreendido, existem hoje duas cruzes de madeira e placas explicativas com os nomes dos cangaceiros vitimados ali.


É possível ver o espaço onde os cangaceiros montavam acampamento, os abrigos entre as pedras. Entretanto, a paisagem mudou um pouco desde 1938, mas nada drástico, o que torna a visita uma verdadeira viagem no tempo.

O guia narra com riqueza de detalhes os acontecimentos daquele dia e ajudam os visitantes a entender o contexto histórico do cangaço.
Estavam acampados ali cerca de 30 cangaceiros, muitos conseguiram fugir e 11 foram mortos, incluindo Lampião e Maria Bonita.

Como Lampião foi capturado?
A localização exata do bando teria sido revelada às autoridades por coiteiros (habitantes locais que ajudavam os cangaceiros) ou por informantes pagos, embora os detalhes dessa traição permanecessem envoltos em mistério. A volante comandada pelo tenente João Bezerra, com apoio do sargento Aniceto Rodrigues, atravessou o rio durante a noite e cercou silenciosamente a Grota de Angico.
Antes mesmo que o grupo pudesse reagir, a volante abriu fogo. Lampião foi atingido logo nos primeiros minutos, seguido por sua companheira Maria Bonita, que, segundo relatos, foi capturada com vida e decapitada.
As cabeças dos cangaceiros
Após o massacre, os cangaceiros foram todos decapitados e as cabeças levadas para Piranhas, de onde seguiram para Maceió e por fim, Salvador.

Uma das imagens mais bárbaras desse momento histórico é das cabeças de Lampião, Maria Bonita e de mais nove cangaceiros exibidas publicamente na escadaria da prefeitura de Piranhas.
O cerco à Grota de Angico marcou o começo do fim do cangaço como movimento armado e se tornou símbolo do confronto entre a ordem oficial e a resistência armada no sertão nordestino.