Será que este é o fim da Itapemirim? A companhia cancelou todos os seus voos e anunciou um processo de reestruturação.

Será que este é o fim da Itapemirim? A companhia cancelou todos os seus voos e anunciou um processo de reestruturação. A ANAC suspendeu o seu Certificado de Operador Aéreo (COA). Enquanto isso, passageiros estão abandonados em diversos aeroportos espalhados pelo Brasil.

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Quando o Grupo Itapemirim anunciou a criação da sua companhia aérea, logo nos primeiros meses da Pandemia do Covid-19, a notícia foi recebida com ceticismo e não poderia ser diferente. Basta recordar que praticamente todas as empresas aéreas do mundo estavam passando pela pior crise do setor, com cancelamento de rotas, aeronaves no chão e caixa esvaziando. 

Em maio de 2020, cerca de 80% da frota global de aeronaves de uso comercial para transporte de passageiros estava no chão. A demanda por viagens aéreas havia secado e sem a previsão breve de uma vacina – o que hoje é uma realidade e vem permitindo a retomada do setor – naquela época o futuro era incerto.

Por outro lado, o Grupo Itapemirim já enfrentava um longo processo de recuperação judicial, com venda de ativos do braço rodoviário para poder pagar as contas e se manter. Neste cenário, a criação de uma companhia aérea parecia piada de grupo de Whatsapp. Não era!

Sidnei Piva, o presidente do Grupo Itapemirim, prometeu oferecer um serviço que diferenciaria a ITA das concorrentes. O avião escolhido foi o Airbus A320, havia grande oferta desses aviões estacionados mundo afora. Usados e com cerca de 15 a 20 anos de idade e que não interessava mais os maiores players do mercado por conta da baixa eficiência econômica e manutenção pesada.

A ITA entraria no mercado oferecendo mais espaço entre as poltronas, despacho de bagagem e marcação de poltronas sem cobrança e serviço de bordo diferenciado quando fosse novamente autorizado pela Anvisa. “Será algo visto apenas na Varig ou na Emirates”, dizia Sidnei Piva para a imprensa na época.

A320 da ITA

O plano era ambicioso, a empresa queria 50 aeronaves até o fim de 2021 para abocanhar 40% do mercado doméstico. O projeto previa o início das operações com 10 aeronaves, mas começou com duas. 

Antes mesmo do início das operações regulares com passageiros pagantes no dia 01 de julho de 2021, a ITA já estava cancelando uma série de voos. Eu tive um voo cancelado, aquele que seria o voo inaugural entre São Paulo e o Rio de Janeiro. Era o presságio do que estava por vir. Eu fiz o voo inaugural de São Paulo para Salvador e mostrei a história em texto aqui no blog e em vídeo no canal do Vou na Janela no Youtube.

Como é voar com a Itapemirim
Voo inaugural

Cobrir uma rede de 14 cidades com apenas duas aeronaves é impossível. Assim, os cancelamentos continuaram a acontecer. A conta não fechava, mas os planos ambiciosos da empresa eram um voo cego, sem instrumentos. Falavam em rotas internacionais, em adquirir aeronaves Airbus A330 para voar para os Estados Unidos e Europa. Argentina ainda neste ano.

Nos bastidores, os pagamentos dos funcionários começaram a atrasar. Benefícios suspensos, como o convênio médico. Os relatórios de pontualidade e estatísticas operacionais deixaram de ser enviados para a Anac.

Mais aeronaves chegaram para dar um respiro, mas não adiantou. Mais voos e rotas começaram a ser canceladas em meados de setembro. Algumas rotas e bases sequer foram inauguradas.

Mais cancelamentos e o descaso com o passageiro atingiu níveis que jamais esperamos de uma empresa aérea. Os passageiros não eram avisados dos cancelamentos, às vezes, descobriram no momento do check in. Ou tinham suas passagens remarcadas para 3 ou 4 dias depois.

Por falta de pagamento para a empresa que prestava o atendimento de call-center, este serviço deixou de funcionar. Sem lojas físicas, a única maneira dos passageiros entrarem em contato com a ITA era por email. Que em muitas ocasiões, não eram respondidos.

Mesmo com milhares de passagens vendidas, o caixa estava vazio e um episódio que ilustra este momento foi quando a empresa cancelou 80% dos seus voos para usar 4 aeronaves no fretamento de torcedores para a final da Copa Libertadores em Montevideo no Uruguai. A razão? Fazer caixa!

Neste momento, já tínhamos certeza de que a ITA não duraria muito. A notícia de que Sidnei Piva havia criado uma empresa no Reino Unido, a SS Space Capital Group UK LTD com valor nominal de 785 milhões de libras (R$ 5,9 bilhões) causou estranhamento e indignação dos funcionários e colaboradores com seus pagamentos atrasados.

Na sexta-feira, dia 17 de dezembro de 2021, a WFS Orbital, empresa que prestava os serviços de solo para a ITA – desde o pessoal do check in até os funcionários de rampa – paralisou os serviços para a companhia aérea por falta de pagamento.

Sem ter como operar, a ANAC suspendeu o Certificado de Operador Aéreo (COA) da Itapemirim. Sendo assim, a ITA não poderia mais voar. Todos os voos foram cancelados por tempo indeterminado e a empresa anunciou um processo temporário de reestruturação.


Passageiros da ITA abandonados pelos aeroportos


O que se viu em todos os aeroportos onde a empresa operava eram passageiros perdidos sem saber o que fazer. No Aeroporto de Guarulhos, o maior do Brasil e da América Latina, dezenas de pessoas dormiram pelo saguão do Terminal 2. 

Eu estive hoje no Aeroporto de Guarulhos e registrei em vídeo o desespero dos passageiros. Que chegaram a se amarrar às catracas de acesso ao setor de embarque do aeroporto impedindo que os passageiros de outras empresas embarcassem.

Uma família de Maceió estava desde a noite de quinta-feira no aeroporto quando seu voo já havia sido cancelado e sem previsão de reacomodação em outras empresas.

Fim da Itapemirim: Passageiros protestam no Aeroporto de Guarulhos

O que diz a Itapemirim


A empresa diz que a prioridade é reacomodar os passageiros que estão fora de suas localidades nos voos de outras empresas. Já os passageiros que estão nos seus domicílios e com passagem de ida e volta serão atendidos com o reembolso.

Conduto, eles não dizem se os passageiros já estão sendo acomodados ou quando isso irá acontecer, visto que estamos em um período de grande movimento e as empresas já estão operando com aeronaves lotadas.

Se você tem voos com a ITA nos próximos dias, a orientação é entrar em contato com os canais da empresa. O atendimento telefônico foi restabelecido e o chat pelo site está funcionando.


É o fim da Itapemirim?


Quando a empresa anunciou o cancelamento temporário de suas rotas para reestruturação interna, não foi informada uma data para a retomada dos serviços. A suspensão do Certificado de Operador Aéreo (COA) da Itapemirim é um problema a mais para a empresa que vai precisar passar por um novo processo de certificação e que certamente será mais criterioso.

Entretanto, sem um grande investimento para pagar as suas dívidas com funcionários e fornecedores, os A320 da ITA continuarão no chão.

O maior ativo de qualquer tipo de comércio ou prestador de serviço são os seus funcionários e clientes e a ITA não soube cuidar de ambos. Com tantos cancelamentos em menos de seis meses de vida, certamente são ex-clientes que não voltariam a voar com a empresa. 

Você voaria com a ITA? Eu certamente não.


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